2º Fórum de Tiradentes

CULTURA E DEMOCRACIA: O AUDIOVISUAL NA AFIRMAÇÃO DA SOBERANIA NACIONAL

A Mostra de Cinema de Tiradentes, ao longo de seus 27 anos de existência, consolidou-se como espaço singular de formação, promoção, reflexão, exibição e difusão do cinema brasileiro.  Sempre esteve à frente de seu tempo, atento às mudanças do audiovisual, seja do campo tecnológico, seja pelo lado de quem pensa, vê e faz cinema. Um ambiente de encontros, de gestação de parcerias profissionais, de inovação e tendências, de interação crítica no cinema do Brasil.

No decorrer de sua trajetória, presenciou avanços, transformações e continuidades no cinema brasileiro. A criação da Ancine, da Secretaria do Audiovisual, a implementação da Lei 12.485 e do Fundo Setorial do Audiovisual. Um impacto positivo em toda cadeia produtiva do audiovisual. Um processo de expansão e crescimento acima de vários outros setores da economia brasileira. Viu as séries de televisão ocuparem o lugar antes do cinema. E as telas de TV e dos computadores tornaram as superfícies de imersão de uma narrativa.

Foi testemunha do surgimento de uma nova geração de realizadores e instrumento que favoreceu a visão de conjunto – um panorama que, se revela fragilidades, também permite vislumbrar novos rumos. Foi pioneira ao criar a Mostra Aurora, um recorte da programação que criou oportunidade para os diretores estreantes e em início de carreira ganharem espaço na cena audiovisual brasileira e exibiu filmes instigantes e desafiadores, de baixíssimo orçamento, precários enquanto estrutura de produção, mas com senso de provocação, deslocamento dos sentidos e das sensações, de culto ao enigma e do estranhamento.

Consolidou-se como plataforma de lançamento do cinema brasileiro contemporâneo e o que apresenta anualmente não é apenas um cinema com novas pessoas, com novas representatividades e com novas abordagens, personagens e estéticas, mas um cinema com outra composição de campo cinematográfico, mais aberto e mais tensionado, mais politizado e mais responsável, embora com todos os ajustes e amadurecimentos necessários na relação com o fazer cinematográfico e com as recepções críticas desse fazer.

De várias formas, o evento acompanhou os altos e baixos da produção nacional, tanto em termos de seleção e exibição de filmes quanto como espaço de discussão, interação, reunião e circulação de quem trabalha ou se interessa em cinema brasileiro. Afinal, desde o nascimento, a Mostra nunca se contentou em só exibir filmes. Desde a primeira edição, promove o Seminário do Cinema Brasileiro, que reúne profissionais da área em mesas de debate sob variados temas.

Em 2023, a Mostra Tiradentes inovou, mais uma vez, com o lançamento da 1ª edição do Fórum de Tiradentes – Encontros pelo Audiovisual Brasileiro. Um fórum de reflexão, cooperação e apoio para a reconstrução das políticas audiovisuais. Um fórum que abrigou um debate capaz de articular visões e necessidades dos diferentes segmentos do setor, cada dia mais complexo e descentralizado.

Mais de 70 profissionais do audiovisual brasileiro estiverem reunidos de forma online e presencial para elaborar o diagnóstico dos pontos críticos da atividade – fortemente afetada pela pandemia e pelo descaso do governo federal nos últimos cinco anos. Os resultados do rico exercício dos Grupos de Trabalho estão traduzidos na Carta de Tiradentes 2023 e no conjunto de diretrizes e recomendações publicadas em relatório, cuja premissa central é o tratamento transversal das demandas dos diferentes setores da cadeia produtiva para a construção de uma política sistêmica, tendo por base a descentralização, a diversidade, a democracia, o desenvolvimento econômico e social.

Nessa 2ª edição do Fórum de Tiradentes, sob a coordenação executiva de Débora Ivanov, Mário Borgneth e Raquel Hallak, abre-se novamente o espaço para a reflexão propositiva, a partir da caminhada de reconstrução percorrida em 2023, de forma a celebrar as conquistas e os passos dados, ao tempo em que se formularão perspectivas e propostas para o ano de 2024 em seus imensos desafios.

A metodologia adotada foi a reconvocação dos grupos de trabalho formados na primeira edição, somados a novos colaboradores, sob a coordenação de Alessandra Meleiro [GT Formação), Cíntia Bittar (GT Produção), Lia Bahia (GT Distribuição), Pedro Butcher (GT Exibição/Difusão) e José Quental (GT Preservação) para a analise do histórico de realizações alcançadas, tendo por base as diretrizes e recomendações formuladas na 1ª edição do Fórum, processo que se concluirá nos encontros presenciais e mesas de debate que ocorrerão durante a 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes, em quatro dias de programação, de 20 a 23 de janeiro de 2024.