Até 16 de fevereiro, um recorte especial da 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes está disponível na plataforma Itaú Cultural Play.
A Mostra Itaú Cultural Play da 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes exibe seis obras que compõem diferentes programas de curtas-metragens desta edição. Os filmes foram escolhidos para exibição online, como forma de democratizar e ampliar o acesso aos curtas que serão exibidos presencialmente em Tiradentes, sobretudo na Mostra Panorama. Eles demonstram o tom da curadoria neste ano e, acima de
tudo, apresentam a diversidade da produção curta-metragista brasileira contemporânea, colocando na tela diferentes territórios, culturas e tempos históricos que formam o Brasil atual.
O projeto urbanístico do Plano Piloto de Brasília contamina as por vezes curvilíneas maneiras de filmar em Três, ficção do Distrito Federal, que marca a estreia de Lila Foster na direção de cinema e teve financiamento do Fundo de Apoio à Cultura. O filme aborda não só as complexidades da maternidade, mas também da vida adulta, ao acompanhar a relação de Luísa (Gabriela Correa) com sua teimosa filha, Vera (Amora Inocêncio), e seu marido, João (João Campos).
Já o curta Veredas apresenta imagens de uma cidade do interior de São Paulo marcada pelo trabalho de pedreiros de diferentes origens territoriais, que equilibram a construção de estruturas e da própria vida. O filme é forte representante da efervescente cena de produção cinematográfica que ocorre no interior do estado (e também nos interiores de outras partes do país), com apoio de iniciativas de fortalecimento político e formativo como o Icine (Fórum de Cinema do Interior Paulista) e o Polo Audiovisual do Velho Oeste.
A premiada produção de Pernambuco, Mar de Dentro, com direção da artista visual, cineasta e educadora Lia Letícia, pode ser definida como documentário de busca e reconstituição de memória familiar, aberto ao ensaísmo, à performance e à experimentação formal. Articulando, por meio de simbolismos e da montagem em tela dupla, diferentes temporalidades de história do Brasil, desde a colonização, o filme se vale de relatos de Kelly Cavalcanti Silva e de seu avô, Sérgio Lino da Silva, vulgo Preto Sérgio, para abordar o tema da constante luta das pessoas negras por liberdade no Brasil.
Em Confluências, de Dácia Ibiapina e Nêgo Bispo (Brasília, DF), somos levados até São João do Piauí, no quilombo Saco-Curtume. No chão de terra batido, a intimidade enuncia formas de ver o mundo, a cachaça desenha presenças brincantes e a música acentua o gesto de biografar um ser coletivo.
Exibido na agora competitiva Mostra Formação, Animais Noturnos, curta-metragem de São Paulo dirigido por Indigo Braga e Paulo Abrão, coloca em cena uma personagem mulher transexual gigante caminhando pela cidade. O estranhamento possibilitado pelo efeito especial remete a filmes clássicos do cinema mundial que colocam em questão a percepção de corpos “estranhos” ou “monstruosos” em contextos urbanos, evidenciando um anseio crítico pela via do contemporaneamente em ascensão cinema queer brasileiro. O curta foi realizado no contexto formativo da residência artística LAB Cinema Expandido, que marcou presença junto a 1.039 filmes inscritos na Mostra de Tiradentes deste ano.
Já Mukunã – Aprendiz de Pajé, do Rio Grande do Norte, com direção e fotografia de Rodrigo Sena, acompanha de perto o personagem-título em sua preparação para se tornar pajé da Aldeia Potiguara Katu, localizada na cidade de Canguaretama. O curta denuncia o desmatamento na região e articula imagens e sonoridades que dão profundidade sensorial àquilo que é mostrado nas cenas. Seu diretor está implicado com a formação cinematográfica dos potiguares por meio do projeto Território Katu Digital.
Camila Vieira
Leonardo Amaral
Lorenna Rocha
Mariana Queen Nwabasili
Rubens Fabricio Anzolin
Curadores
