DRAMAS FAMILIARES, MEMÓRIA E TRADIÇÕES CULTURAIS NA PRAÇA

Ao estabelecer diálogo com o público geral que transita pelas sessões da Mostra de Cinema de Tiradentes, a Mostra Praça exibe 14 curtas-metragens, distribuídos em três sessões. As propostas variam dos tradicionais documentários de observação ou memorialísticos até narrativas de ficção com dramas familiares ou em torno da conjuntura sociopolítica brasileira. Após cada exibição, os espectadores são convidados a permanecer na Praça para acompanhar o bate-papo com os diretores e/ou outros convidados representantes dos filmes.

A primeira sessão começa com o curta mineiro Ramal, de Higor Gomes, que observa a interação entre jovens que se divertem com suas motocicletas na periferia de Sabará. O realizador João Victor Almeida faz uso de intervenções em fotografias com colagens para falar sobre sua infância e adolescência, a relação com a família e o processo de descoberta da homossexualidade no filme-ensaio carioca Deixe a Boneca no Carro. De São Paulo, Engole o Choro, de Fabio Rodrigo, é uma ficção em torno de masculinidades negras, que conta a estória de um jovem que é preso por furtar uma moto. Quartas de Final ou “Por Que Decidi Torcer Contra o Brasil”, de Dario Lopes e Vinicius Campos, ressignifica a derrota da Seleção Brasileira na Copa do Mundo, ao olhar para a mudança no cenário político institucional. Coprodução entre Goiás, Ceará e Brasília, o documentário Pirenopolynda, de Izzi Vitorio, Tita Maravilha e Bruno Victor, reconfigura tradições e festejos locais a partir de uma perspectiva da vivência trans.

De Mato Grosso, o documentário Paradiso de Aníbal, de Diego Baraldi, abre a segunda sessão com as memórias de um cartazista e projecionista que narra sobre seu ofício em salas de cinema de Cuiabá, nos anos 50 e 60. O curta paulista Nagano, de Letícia Hayashi, intercala fotografias de dois jovens com a leitura de cartas escritas por seus familiares, mas narradas por atores e atrizes. O realizador Fernando Santos trata do seu imaginário afetivo do cinema e o desejo particular de realizar filmes no documentário alagoano Habito. A ficção pernambucana Dinho, de Leo Tabosa, traz no elenco Hermila Guedes e Renata Carvalho em um drama sobre um menino que mora com a tia, enquanto sua mãe biológica retorna à cidade para reatar os laços perdidos.

A última sessão da Mostra Praça abre com o documentário carioca A Alma das Coisas, de Douglas Soares e Felipe Herzog, que acompanha os preparativos para o Carnaval dentro de uma escola de samba e todo o trabalho de infraestrutura das esculturas e dos carros alegóricos. O documentário Rei da Ciranda Pesada, de Cintia Lima, apresenta a trajetória de João Limoeiro à frente da Ciranda de Engenho, na Mata Norte de Pernambuco. A animação baiana Curacanga, de Mateus di Mambro, faz uso da tradição folclórica brasileira para narrar a história de um homem que precisa matar uma criatura mitológica para se aproximar do amor de uma jovem. Moradores de uma ocupação em São Paulo compartilham suas memórias e desejos de luta na ficção Provisório, de Wilq Vicente. A sessão se encerra com a ficção catarinense Eles Não São Estrangeiros, de Pedro Bughay, que usa a metáfora da região Sul do país assolada por um vírus que transforma a população em zumbis para fazer um comentário sobre a permanência do bolsonarismo no Brasil e o episódio dos ataques de 8 de janeiro em Brasília.     

Camila Vieira
Leonardo Amaral
Lorenna Rocha
Mariana Queen Nwabasili
Pedro Guimarães

Curadores