ARQUIVOS E ANTEPASSADOS DE UMA DAS POSSÍVEIS HISTÓRIAS DE MINAS GERAIS

A Mostra Regional demonstra, mais uma vez, em Tiradentes, sua importância e pluralidade de paisagens, costumes, culturas e aspectos sociais e políticos. O conjunto de filmes, para além de sua variedade de ficções e documentários, procura ressaltar traços fundamentais e perspectivas históricas que salientam as aproximações e diferenças existentes em todo o estado de Minas Gerais.

Do Observatório me Viram, de Thaís Silva e Giovanna Giovanini, realizado na cidade de Passa Tempo, é o filme de abertura da sessão e procura esmiuçar arquivos e estórias do ufólogo Niginho, tio da diretora, que dedicou toda a sua vida a investigar os fenômenos da ufologia na região. O curta-metragem transita entre os materiais de arquivo e o presente para traçar o perfil do personagem, enredado por suas impressões e relatos a respeito de sua pesquisa pessoal que impregnam por completo a narrativa da obra.

Já em Bauxita, segundo curta que compõe a Mostra Regional, realizado por Thamara Pereira na cidade de Muriaé, os contornos e efeitos da mineração na região funcionam como a pedra de toque para um filme que procura evidenciar todos os impactos da atividade de extração da bauxita na comunidade rural de Belisário. O filme retrata o personagem de Frei Gilberto, que recebe ameaças após se mostrar um ferrenho defensor do meio ambiente na localidade. Assume um tom político ao se abrir para as falas do personagem e dos demais trabalhadores da região, oscilando entre imagens da Mata Atlântica que resiste e entrevistas com aqueles que mais sofrem com a exploração mineral na região.

O terceiro filme da sessão, a animação Diamantes de Acayaca¸ feita em Juiz de Fora por Fernanda Roque e Francisco Franco, reatualiza a mitologia que aproxima o Império Inca e a exploração de diamantes em Minas Gerais durante o período colonial. Com traços e cores fortes, a narrativa é retomada por mulheres em uma tentativa que intenciona um debate sobre o processo colonial na América Latina.

Por fim, o quarto e último filme, Cabinda, de Swahili Vidal, também realizado na cidade de Juiz de Fora, vale-se de contrastes e espelhamentos a partir da fotografia em preto e branco e da estrutura do monólogo para dar vazão à história de uma mulher negra, escravizada, que retoma memórias de sua vida a partir da narração que tece durante o curta-metragem. Ao se abrir para a encenação da personagem e seu diálogo diante de um espelho, a obra também se abre para o rompimento de estruturas de preconceitos e explorações raciais e de gênero.

Camila Vieira
Leonardo Amaral
Lorenna Rocha
Mariana Queen Nwabasili
Pedro Guimarães

Curadores