SUÇUARANA: FIM DE UM CAMINHO, UM NOVO COMEÇO
Suçuarana, o mais recente projeto da produtora mineira Anavilhana Filmes, é a primeira direção compartilhada de Clarissa Campolina e Sérgio Borges no formato de longa-metragem. Exibido nos festivais de Chicago, Roterdã e Brasília, o filme agora encerra a 28ª Mostra de Tiradentes.
Em uma edição que se volta aos filmes para interrogá-los – “Que cinema é esse?”, o filme de Campolina e Borges responde com uma busca pela utopia. Na narrativa, acompanhamos Dora em uma aventura solitária a caminho da terra que teria pertencido a sua mãe e leva o nome do título: Suçuarana. Como uma Alice no país das maravilhas na estrada, no percurso em direção a sua Shangri-Lá, a protagonista encontra e desencontra personagens que auxiliam e confundem o trajeto em direção ao seu “retorno ao lar”. Mas, em vez de enigmas, os personagens dessa fábula do real performam suas dores, seu cotidiano e suas esperanças. A parada para o texto e o silêncio desses encontros suspendem o tempo da narrativa, aproximando-a à lógica do absurdo do romance célebre de Lewis Carroll.
Após o título do filme aparecer na tela, a personagem caminha em direção à câmera na contramão de uma estrada por onde passam caminhões. Como uma Dorothy solitária, Dora é guiada por um cachorro pelas estradas de chão e de asfalto de uma região mineradora prestes a ruir. O cão – que é sempre o mesmo e outro, assim como a paisagem – expressa o mistério que permeia as narrativas utópicas. Entre claros e escuros, é ele quem dá o caminho para a terra prometida.
Em determinado momento, o filme interrompe sua narrativa andarilha e se estabelece junto com Dora em uma comunidade que a acolhe e a insere em um corpo coletivo. Mas o destino da personagem não é o lar. A distopia do real que impregna as imagens acaba em fogo, o que finaliza caminhos e inaugura novos começos. Agora, desacompanhada do espectador, Dora retoma a estrada; porque a utopia é a que faz caminhar.
Francis Vogner dos Reis
Juliana Costa
Juliano Gomes
Curadores